quarta-feira, março 29, 2006

Alcunha (III)

Tinha um conjunto de amigas com quem partilhara a cama, quase sempre por uma noite só. Ele era simpático, sabia anedotas e fazia bons "bloody mary". Por isso só muito tarde percebeu que nas suas costas elas partilhavam, entre risinhos, impressões das respectivas experiências. Daí nasceu a alcunha.

«Mas por quê "carteirista"?» perguntou, à mais leal e constante dessas amigas.
«Não queres saber, a sério», garantiu.
Ele forçou: «Agora que já descobri tens de contar. Não me podes deixar com esta dúvida, vá lá!».
E ela, evitando que o sorriso transbordasse, confessou: «Porque és rápido. Porque nunca damos por nada. E porque, mesmo fartas de sermos avisadas, há sempre uma que acaba enganada entre a luz e a pontinha.»