Maçãs verdes
Chegou a casa com tanto para contar que foi direito ao chuveiro, para ejacular rapidamente, com manipulações vigorosas e decididas. Só depois se enfiou na cama, discreto e silencioso, para não a acordar. O pescoço dela cheirava a maçãs verdes.
Nessa noite teve um sonho esquisito: estava na sala de aula do 9º ano, os colegas eram os mesmos, mas todos eles 20 anos mais gordos. Uma professora exigia-lhe que descrevesse os seus sentimentos acerca do sexo. E ele, envergonhado com a erecção indiscreta que apontava ao tampo da carteira, só conseguia murmurar, fixando os olhos no chão de tacos: «Um dia elas vão perceber que eu tinha razão».
Acordou de madrugada, cansado e inseguro. Ela olhava-o, ainda ensonada, ainda a cheirar a maçãs. Deram uma queca urgente e angustiada, com um pouco de dor sabiamente repartida pelos dois. Quando acordou ela já tinha saído. E tudo o que ele tivera para contar tinha deslizado pelo ralo, em fiapos de frases solitárias, esbranquiçadas e inúteis.
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