terça-feira, fevereiro 28, 2006

Ir-te

Não sorrias assim. Por favor não sorrias assim. Esse sorriso dá-me tesão. Tu não sabes o tesão que esse sorriso me dá. O que esse sorriso me faz. Tu não sabes o que me fazes com esse sorriso.

A verdade é esta: o teu sorriso fode-me. Fode-me todo, sem apelo nem piedade. Quando te vejo sorrir assim só penso em comer-te o sorriso. Comê-lo à bruta (será possível comer-te o sorriso sem que tu o percas?) com a certeza de um bicho.

Sabes quantas e quantas vezes adormeço com o teu sorriso a palpitar-me por baixo dos lençóis? Sabes quantas vezes me toco, imaginando sorrisos em vez de mãos, dentes em vez de veias, lábios em vez de dedos? Se sabes, não sorrias. Se não sabes, por favor pára de sorrir assim. Ou então deixa-me ir-te ao sorriso.

Chuva

Gosto das tuas mamas. Gosto de te ver suar. Gosto do esgar que fazes quando cerras os dentes e expiras com força. Do teu cheiro quando estás húmida. Gosto dos teus lábios. De todos os teus lábios. Adoro a forma discreta com que os afastas com o médio e o indicador. E adoro ver os teus olhos subirem para trás das pálpebras quando te tocas. Acima de tudo gosto dos teus sons abafados, de ver-te deslizar do grave ao agudo como se estivesses numa pista de gelo...

...Mas, desculpa a franqueza, às vezes também me dás vontade de ser terno, fazer-te festas no cabelo e esperar que a chuva passe. Perdoas-me?

segunda-feira, fevereiro 27, 2006

Imagina

- Imagina que tinhas uma irmã de 22 anos, tipo Charlize Theron...
- Loura, portanto?
- Loura ou morena, pode não ser tipo Charlize Theron, pode ser mais Hale Berry...
- Mulata?! Como é que eu fazia para ter uma irmã mulata?
- Porra, não sejas chato. A tua mãe ou o teu pai podiam ter experimentado com um mulato, ou uma mulata.
- Então não era irmã, era meia-irmã...
- Sim, ok, imagina que tinhas uma irmã, ou meia-irmã...
- ...Loura ou mulata.
- Sim, gaita! Ou morena, tipo Maria Grazia Cuccinotta...
- A Maria Grazia Cuccinotta não tem 22 anos! Nem as outras, aliás.
- Mas já teve! Gajo chato, dasss!
- Sim, já deve ter tido, mas ninguém a conhecia nessa altura.
- ...
- Diz, diz.
- Olha, esquece, não vale a pena.
- A sério, diz! O que é que ias perguntar?
- Ok, mas não interrompas mais. Imagina que tinhas uma irmã de 22 anos...
- ... Ou meia-irmã.
- Hmmmpfffsss. SIM! Ou meia-irmã. De 22 anos. Boa, muito boa. Horrivelmente boa.
- Tou a imaginar, e então?
- Imagina que ainda vivias com ela, em casa dos teus pais.
- Só que...
- (suspiro) Sim?
- Se a minha irmã fosse assim tão boa já não vivia em casa dos pais aos 22 anos.
- Eh pá, IMAGINA!! Gaita pra'isto! Ou então não era em casa dos pais, era em tua casa e ela estava lá a viver por uns tempos.
- Ok, é melhor assim.
- Pronto, o que eu te queria dizer era isto: ela vive contigo, em quartos separados, mas a casa é pequena. Todos os dias a vês a mudar de roupa, a entrar e a sair do banho, a escolher a lingerie...
- Sim, e então?
- Então, nada, o que eu te queria perguntar era: ia ser difícil resistir? Tens a Sharapova, ou a Ana Beatriz Barros, ou a Sónia Braga de 1975, ou a Maureen O'Sullivan de 1934 a viver contigo. Em que é que pensavas para te distrair quando ela deixava cair a toalha de banho à tua frente?
- Em nada.
- Em nada?!
- Não.
- Então?!
- Fodia-a.

terça-feira, fevereiro 21, 2006

iPoda

Anabela fode, fode
Quando desliga o iPod.

Há mais de um mês que é assim:
Um surfista da Arrifana
Dá-lhe quecas à canzana
E ela ensina-lhe latim:
- Fellatios chifres-de-bode,
cunnilingus à la mode.

Enquanto o pau vai e vem
Folga as costas Anabela
Sente, boca na flanela,
O gosto que o fauno tem
Revira os olhos, sacode
A cabeça: «isssso! oh god!»

(Será gozo, será farsa?
Um tributo de fachada
à prancha circuncidada
do prancheiro de Alpiarça?)

Ajeitando a almofada
Debaixo do corpo dela
Puxa os lençóis, Anabela
Agita-se, escancarada
Vai gemendo: «Quem me acode?»
E deita ao chão o iPod

Anabela sente o fim,
E cabeceia a cabeceira.
Esguicha a prancha certeira
Do surfista de Almeirim.
Quer conter-se e já não pode:
Guincha, relincha e explode.
-----------------------------
Quando desliga o iPod
Anabela fode.
Fode?

domingo, fevereiro 19, 2006

De açorda

Poucas vezes sentia tão vincada a sua autoridade de macho como quando dava uma flácida, absoluta e inapelável nega.

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Ética de cama (excertos)

Ponto nº 3: «Toda a fêmea deve abster-se de perguntar "já entrou?". Em caso de dúvida, o mais correcto é assumir que sim e passar o mais rapidamente possível para o ponto 6»

Ponto nº 6: «Todo o macho deve aguentar-se o tempo suficiente para permitir à fêmea simular o orgasmo com alguma credibilidade»

Ponto nº 8: «Todo o macho deve retirar a pastilha elástica antes de enveredar por práticas em latim. Caso opte por não fazê-lo, é vivamente desaconselhada a produção de balõezinhos»

Ponto nº 12: «Toda a fêmea deve abster-se de perguntar ao parceiro "posso meter-te o dedo?" e criar assim um embaraço diplomático. Caso haja determinação em fazê-lo, força: é sempre possível, a qualquer uma das partes, alegar insanidade momentânea. Caso não haja, é muito feio criar falsas esperanças»

Ponto nº 13: «Todo o macho deve abster-se de perguntar à parceira "então, falta muito?". Se não conseguir evitá-lo deve, pelo menos, evitar olhar para o relógio enquanto faz a pergunta»

Ponto nº 18: «Todo o macho deve aceder a praticar o coito em posições que permitam à fêmea livre acesso à televisão, em especial em horário de novelas. O inverso não se aplica, mesmo durante a transmissão de jogos de futebol»

in
«Peitos, respeitos, coitos, biscoitos e sessenta e oitos - o sexo socialmente correcto» Vv. Aa. Ed. Pinarte, Estoril, 2006

segunda-feira, fevereiro 13, 2006

Amputado

Muito anos depois ainda se arrepiava julgando sentir-lhe as contracções em redor do dedo médio. Nunca mais a viu desde esse Verão. E no entanto continuava a apertar-lhe a memória com espasmos húmidos em forma de anel, tão intensos como as dores fantasma dos amputados.

Cocktail Elipse

Ingredientes
4 cl. de álcool
4 cl. de saliva
2 cl. de extracto de mentol
Vestígios de limão, café, sal, pimenta e fluidos vaginais

Preparação
Em ambiente refogado de suores mistos (mínimo de dois) junte os ingredientes em boca previamente aquecida. Misture com língua alheia durante 30 segundos. Repita as vezes que forem necessárias até à inconsciência.

Cerejas, palhinhas e talos de salsão opcionais.

sábado, fevereiro 11, 2006

Dentes

Foi exactamente 23 minutos e 47 segundos depois de ele lhe desapertar o soutien e passar a palma da mão direita pelos mamilos que ela fez aquilo. Um lento descair de pálpebras, o lábio inferior a desaparecer atrás dos dentes, a mancha branca à volta da carne mordida, a expiração quente a dilatar-lhe ao de leve as narinas. «Há dias de sorte», pensou.

Ouviu um cão ladrar, ao longe, enquanto continuava a agitar ancas e dedos. Movia-se maquinalmente, já à espera do momento em que ela deixasse o lamento abafado rasgar-lhe a garganta e pudessem finalmente ficar a sós. Ele, a escuridão e aquela imagem perfeita, marcando-lhe a memória com a pressão precisa dos dentes sábios.

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Truque II

Ele era tão mau amante que muitas vezes tinha de simular orgasmos quando se masturbava. Pelo sim pelo não, tinha sempre um frasquinho com iogurte morno na mesinha de cabeceira.

Truque

Era tão perversa, tão perversa que nada a fazia vir-se com tanta intensidade como simular que simulava um orgasmo. E nunca encontrou um homem que conseguisse perceber o truque.