sábado, fevereiro 11, 2006

Dentes

Foi exactamente 23 minutos e 47 segundos depois de ele lhe desapertar o soutien e passar a palma da mão direita pelos mamilos que ela fez aquilo. Um lento descair de pálpebras, o lábio inferior a desaparecer atrás dos dentes, a mancha branca à volta da carne mordida, a expiração quente a dilatar-lhe ao de leve as narinas. «Há dias de sorte», pensou.

Ouviu um cão ladrar, ao longe, enquanto continuava a agitar ancas e dedos. Movia-se maquinalmente, já à espera do momento em que ela deixasse o lamento abafado rasgar-lhe a garganta e pudessem finalmente ficar a sós. Ele, a escuridão e aquela imagem perfeita, marcando-lhe a memória com a pressão precisa dos dentes sábios.