Ela tinha um ar frágil e indefeso, com olhos assustados como o de um esquilo. Todo o seu corpo pequeno era um apelo à protecção, mesmo quando sorria. Olhar para ela comovia-o e despertava-lhe um desejo avassalador de ser bom. Por isso, deixou-se submergir por uma onda calorosa de ternura no momento em que lhe soergueu as ancas. Acariciou-lhe os pulsos presos atrás das costas, junto aos rins, desenhou-lhe o contorno da cabeça pousada na almofada, afundou o polegar na cova da sua nuca - no que lhe pareceu ser, por uma fracção de segundo, o gesto mais íntimo alguma vez experimentado com uma mulher.
Depois cruzou o olhar por instantes com os olhos assustados e meigos que tentavam ver o que se passava atrás. Ao fitá-la assim, totalmente exposta e vulnerável, a cabeça a coroar a pirâmide formada pelas coxas, nádegas e rins, sentiu um nó na garganta. O coração bombeava compaixão, meiguice e desejo pelo seu corpo, em batidas regulares, cada vez mais audíveis. Inclinou-se para a frente, as unhas sulcando-lhe as costas macias, a boca aproximando-se do ouvido direito, o que não estava pousado na almofada. Sussurrou: «Vou magoar-te um bocadinho, está bem?». Os olhos assustados e meigos transfiguraram-se, semicerrados numa expressão predadora: «Sim, querido. Sabes que assim são mais 100 palhaços não sabes?».