quarta-feira, dezembro 14, 2005

Esdrúxula

Tentou explicar-lhe. Carnes macias, redondas, suaves ao toque, cujo sabor antecipava na garganta engasgada de saliva. Carnes elásticas, maleáveis, suculentas, que degustava mentalmente, cerrando as mandíbulas para não se notar a vertigem canibal do desejo. E poucas coisas lhe traziam mais facilmente a imagem dessas carnes do que as ocasiões em que tropeçava, maravilhado, numa palavra esdrúxula.

Ela bocejou, sem disfarçar o tédio: «E a que é que achas que isso se deve?». E ele fechou os olhos, incomodado com o «quiéquiéquié» em que se transformara a pergunta. Como vingança imaginou devorar-lhe as nádegas, sílaba por sílaba.